Os livros do Projeto Comunicação Capixaba (CoCa) são um esforço de reportagem, como se diz nas redações. É um trabalho profissional de quem ainda é aluno. É obra da conjunção de esforços que ultrapassam os limites do campus universitário.
O CoCa é um projeto de Extensão executado junto ao Departamento de Comunicação Social da UFES que visa, a um só tempo, capacitar os alunos na técnica do livro-reportagem e constituir uma memória acerca da trajetória da Comunicação Social nas terras capixabas. Criamos o Projeto CoCa em 2004, ao entrarmos na UFES, e já chegamos a oito publicações.
Muito do que se construiu no século XX está se perdendo por inexistência de registros e pelo desaparecimento das fontes que guardam nos corações e mentes o passado que viveram. O CoCa busca dar uma resposta a essa questão e registra aqui a sua inspiração maior: a jornalista, cineasta e ex-professora da UFES Glecy Coutinho.
E aqui cabe uma abordagem acerca da importância da memória. O passado pode ser observado e narrado de diferenciadas formas. Um fato concreto pode suscitar, pois, diversas memórias. Depende de como foi registrado no tempo próximo de seu acontecimento e, principalmente, do tempo de quem o relembra, de quem o relê e o reconta. Memória não é passado, é leitura presente do que passou com vistas a um futuro desejado.
E por que a memória é importante? Importa pelo fato de ela ser a principal referência para a constituição de nossa identidade. Entendendo-se identidade como o autoconhecimento e a diferenciação em relação ao outro, a memória é o que nos dá elementos para nos conhecermos e demarcarmos nossas peculiaridades no mundo.
A comunicação capixaba, como de resto o Estado do Espírito Santo, carece de memória. Sem sabermos o que fomos, sem conhecermos nossa caminhada, falta-nos algo essencial na construção de um futuro melhor e com maior autonomia social, cultural, política e econômica: falta-nos uma identidade concreta e objetiva. E identidade é memória em ato.
O passado sempre teve um futuro. E o futuro não prescinde do passado. Somos aquilo que lembramos, mas também o que esquecemos. Memória é consciência e inconsciência; similaridade e diferença; lembrança e esquecimento; busca, invenção e reinvenção; crença. E como exercício, memória não é algo que se completa ou termina; permanece. Como a vida, e sendo elemento primordial da Humanidade, é algo sempre incompleto. Obra coletiva, é projeto que se faz e refaz ao longo das existências. É pegada e caminho; sonho e horizonte.
Professor Doutor José Antonio Martinuzzo
Organizador e editor do Projeto CoCa